Uma semana e dois números do <em>Avante!</em>

Luísa Araújo
Em cafés e pastelarias tornou-se vulgar haver imprensa à disposição do cliente. A diversidade não é muita e o Cor­reio da Manhã quase que tem lugar obrigatório. Uma opção do/a proprietário/a, consciente ou inconsciente, mas o jornal lá está como que de uma prestação de serviço se tratasse.

Há jor­nais para todas as ne­ces­si­dades das forças que pre­tendem ma­ni­pular cons­ci­ên­cias

O Cor­reio da Manhã é o jornal diário mais vendido em Portugal, ultrapassando os 110 mil exemplares (1). Na imprensa há «jornais de referência» – Pú­blico, Diário de No­tí­cias, Jornal de No­tí­cias – mais dirigidos para as elites. Ao Cor­reio da Manhã cabe a categoria de «jornal popular», dirigido a uma grande massa de leitores que será, e que de certo há quem pretenda que seja, menos exigente, com muitas e curtas notícias, abordando quase tudo o que outros jornais abordam, com informação mais simples, mas onde o crime e o escândalo têm ampla presença e lugar de destaque.
Não sendo o único factor que influencia, os «meios de comunicação social desempenham um papel decisivo na amplificação dos processos de manipulação dos indivíduos» (2). Há jornais para todas as necessidades, não dos leitores mas das forças que pretendem manipular sentimentos e consciências, desviar atenções, «ajudar a pensar», limitar o conhecimento e a reflexão.
Na passagem por um desses cafés onde estava à disposição o Cor­reio da Manhã, senti-me confrontada com títulos da capa, folheei algumas páginas e fui tentada a comparar o incomparável: sete números do Cor­reio da Manhã, com dois números do Avante!. Uma semana em que haverá leitores comuns, mas muitos milhares estão sujeitos simplesmente ao medíocre e insuficiente da informação e da comunicação.
Todos os dias são dezenas de notícias de homicídios, situações de violência, abusos sexuais, furtos, tráfico de droga, tiroteios e conflitos pessoais e uns tantos julgamentos e condenações pelas mesmas razões. Situações quantas vezes dramáticas, insólitas, horríveis, inexplicáveis, com efeitos no ânimo e no comportamento das pessoas que lêem e comentam, levando a sentimentos de pessimismo, de medo, de tudo estar pior, não haver nada a fazer, cada um entregue a si próprio, com resignação.
Estamos perante o desvio de atenções de outros problemas sociais, sendo que até alguns são referenciados no próprio jornal, com curtas abordagens de consumo acrítico, como é exemplo o previsível encerramento de esquadras, o lucro médio diário dos Bancos de 7,3 milhões de euros, o despedimento de 480 trabalhadores da Alcoa, devido à deslocalização da produção para a Hungria, a nova lei da Segurança Social, etc.
Entretanto temos o «Correio do Leitor». Fica sempre bem iludir a interactividade entre o jornal e os seus leitores e dar a ideia de liberdade de opinião, apesar de ser a Redacção a escolher o que publica. Neste caso até há um «serviço» de reclamações em que o cidadão coloca uma pergunta ou um protesto através do jornal e este publica a resposta da entidade que tem a ver com o assunto. É um exemplo da mentalidade instituída: para resolver problemas chama-se a comunicação social e cada um resolve os seus problemas.

A di­fe­rença do Avante!

Não são só os temas e as notícias que fazem a diferença do Avante!, jornal onde se lê o que não é dito em mais lado nenhum. À preocupação com a informação junta-se a análise de causas, mostra-se os contextos e desvenda-se motivações, demonstra-se ou alerta-se para consequências, promove-se o debate, a reflexão motiva-se para a intervenção e a acção. Afirma-se a confiança de que é possível mudar. O Avante! é um jornal de classe, que se assume como o jornal do PCP, o jornal da classe operária, dos trabalhadores e do povo.
O Avante! informa e toma posição. A gravidade da situação económica do País, as propostas do PCP assentes na valorização dos recursos materiais e humanos do País, a ofensiva contra os trabalhadores, o desemprego, a denúncia das injustiças sociais, a luta em defesa dos direitos laborais, da contratação colectiva dos trabalhadores da Administração Pública e do sector privado, pelo direito ao ensino, à saúde e à habitação, a luta em defesa das liberdades e do regime democrático, a informação, valorização e a motivação para a luta dos trabalhadores e das populações, a defesa dos direitos das novas gerações.
O Avante! informa e aprofunda a análise sobre a situação em vários países, denuncia perigos reais e mostra a solidariedade dos comunistas portugueses com a luta dos povos de todo o mundo.
O Avante! não vê o leitor apenas como um receptor, mas como alguém que está envolvido nos problemas, nas reivindicações e cujas soluções dependem da participação e do reforço da consciência social e política de cada um, da organização e da acção colectiva.
Lenine afirmou que o jornal de um Partido revolucionário tem um papel propagandista, agitador e organizador. O Avante! completou 76 anos. Ao longo da sua história tem cumprido este papel que não é comparável com o de qualquer outro jornal português.
O empenhamento de toda a organização partidária na divulgação e venda do Avante! é parte integrante dos objectivos do Partido, da luta social, política e ideológica que travamos, da mobilização dos trabalhadores e do povo, contra a política de direita, contra o individualismo, contra mentalidades retrógradas que impedem o progresso e o desenvolvimento humano.
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(1) – Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens e Circulação (APCT). Dezembro 2006
(2) – Philippe Breton, A Pa­lavra Ma­ni­pu­lada, Editorial Caminho


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